terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Bases para a detecção de talentos esportivos... Um início de uma boa prosa...

No meio esportivo, a identificação do talento é baseada na maioria das vezes por aspectos de natureza subjetiva dos técnicos e professores envolvidos no processo de seleção. Os critérios estabelecidos e utilizados, assim como a sua eficácia, nem sempre são devidamente conhecidos. Ainda que a predição do desempenho seja atraente, existem poucas evidências de qualquer critério científico que sirva de base para predizer o futuro no que se refere ao desempenho esportivo. Em contraposição, a capacidade de “enxergar” o talento esportivo desde idades iniciais, por parte dos profissionais envolvidos neste processo, não pode ser subestimada. Bohme cita em seus estudos sobre o processo de confirmação do talento, e que segundo ela essa etapa deve ocorrer a nível local (meio ambiente do próprio individuo) e assim expandir para as demais esferas sociais, municipais, estaduais, nacionais e internacionais. De acordo com Prudêncio (2006), a descrição da detecção de talentos desportivos faz parte de um conjunto de circunstâncias que devem ser analisadas levando-se em consideração as complexidades inerentes ao fenômeno biológico de um ser humano. Questões ligadas a sua individualidade biológica, podem agir de forma positiva podendo apresentar-se de maneira determinante ou não, quando exposto a condições de treino facilitando os mecanismos de adaptação ou momentos competitivos onde sua atuação poderá ou permitirá que o resultado desportivo seja modificado. Para Noce (2006) os traços psicológicos também definidos geneticamente na pessoa denominada talentosa devem fazer parte da análise, assim como o aspecto da liderança conferindo-lhes a estabilidade requerida para a prática do desporto competitivo. Família, ambiente social seriam alguns desses fatores que atuam de maneira positiva para a formação e da personalidade, que futuramente irão contribuir para obtenção de altos rendimentos desportivos; incluindo-se entre esses traços: aquisição de valores, encorajamento, combatividade, controle emocional, alta concentração e capacidade para mantê-la por período prolongado, assim como determinação para superação de limites (Vilani, Samulski, 2002), porém os mesmos autores atentam para o fato de que a família pode afetar de forma negativa gerando alta exigência,regras rígidas e expectativas irreais.
Em esportes como a ginástica artística, cujos gestos dependem de técnicas que, em função de padrões normativos elevados, exigem características físicas particulares se faz necessário direcionar o trabalho de forma diferenciada para as crianças que pretendam ou que possuam condições de atingir o alto rendimento não sejam superestimadas e nem mesmo ignorar as que irão praticá-la como forma de lazer. Este poderia ser apontado como um dos aspectos freqüentemente negligenciado quando se fala em seleção de talentos – na verdade, esse processo não ajuda apenas a identificar o potencial atlético de futuros atletas, mas também a adequar o trabalho àqueles que não o possuem, evitando sobrecargas demasiadas em crianças que poderiam estar praticando o esporte sem fins competitivos. Em outras palavras, a seleção de talentos torna mais fácil realizar o trabalho correto com a pessoa certa. (Albuquerque e Farinatti 2007).
A forma como será conduzido este processo poderá definir a presença ou não deste nas demais etapas do processo de formação que poderão conduzi-lo as categorias superiores, meta da maioria das crianças e adolescentes que se inserem em tais programas.
Massa et al (1999) atenta para o fato que informações  importantes sobre o comportamento e evolução das variáveis antropométricas, metabólicas, neuromotoras e psicossociais interferentes  e relacionadas ao esporte durante os processos de crescimento e desenvolvimento são escassas  assim como a influência do treinamento nos atletas desde as categorias de base até a principal   dificultando  assim  elaboração de métodos mais sistemáticos e objetivos no processo de treinamento a longo prazo.
No Brasil o empirismo que cerca a seleção de talentos no esporte, principalmente no futebol, usa-se muito mais ou apenas a experiência dos seus observadores, caça-talentos, olheiros, treinadores na sua maioria ex-atletas sem qualquer formação científica. Neste caso a identificação dos talentos ocorre de forma desconhecida da comunidade científica, podendo ocorrer de maneira totalmente aleatória (sorte ou indicação), porém esta deveria e/ou poderia ser pautada de certos índices, marcas, caracteres.
Böhme (1994) denomina “talento” a pessoa que possui uma aptidão específica por meio de condições herdadas ou adquiridas, apresentando-se acima da média em determinado campo de ação ou aspecto considerado, a qual é possível ser treinada e desenvolvida. Para Weineck (1991) “talento é uma vocação marcada em uma direção, que ultrapassa a média, que ainda não está completamente desenvolvida”. KISS et. al (2004) definem “Talento como o resultado individual de um processo dependente das relações temporais existentes entre as disposições genéticas, a idade  relacionada com a fase do seu desenvolvimento, as exigências de desempenho esportivo no treinamento, assim como de qualidades psicológicas”.
Vieira e Vieira (2001) afirmam que, a confirmação do talento necessita de um forte empenho na preparação esportiva e esta não se realiza sem um conjunto de condições sociais que suportam o envolvimento das crianças e jovens no esporte e na preparação esportiva visando o alto rendimento. O ambiente familiar e o empenho dos pais para a experiência desportiva dos filhos parece ser, entre essas condições sociais, uma das principais. O processo de detecção e seleção de talentos deveria ser mais cuidadoso com relação a esses aspectos. O indivíduo que passa pelo mesmo pode apresentar desempenho inferior ao normal devido a situações de estresse decorrente da pressão de um processo de seleção. De acordo com Lanaro Filho e Böhme (2001) para ser um talento, não são importantes somente as características físicas individuais do atleta, mas também o contexto geral que esse atleta será trabalhado, desde o grupo em que ele será inserido até a forma que ele será tratado e treinado. Aspectos psicológicos como estresse, motivação, procura e gosto pela modalidade, não são levadas em consideração como deveriam.
Segundo Weineck (2000), a performance do jogador de futebol é determinada por várias habilidades, capacidades e qualidades que se completam de modo interdependente. As qualidades físicas representam um pré-requisito para a performance técnica, tática e psicológica.
O processo de universalização do desporto proporcionou um grande desafio a todos os educadores, pais, pessoas ligadas de uma forma ou de outra ao esporte. A criança e a necessidade de rendimento com a possibilidade de profissionalização cada vez mais precoce. É inegável a contribuição do desporto para a formação da criança e do adolescente em diferentes aspectos tais como: cognitivo, motor, psíquico, social, afetivo. Relação prática esportiva, particularidades inerentes a cada desporto, rendimento possível e possibilidades e estágios de desenvolvimento e maturação biológica da criança e dos jovens. Para ROWLAND (2003) apud Bergamo (2003), existem várias dificuldades para uma melhor compreensão das respostas fisiológicas ao exercício, no caso de crianças e jovens além da necessidade em estabelecer-se uma relação entre as variáveis durante o processo de crescimento. A indução a possíveis erros na formação do futuro atleta surgem na medida em que a grande maioria de professores e técnicos não são capazes ou não se preocupam em respeitar as individualidades biológicas, nem dar o devido tempo de preparação para o desenvolvimento técnico, já que as competições para essas categorias são organizadas segundo a idade cronológica.
Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen (1997) apud Vieira (2001) apontam três elementos fundamentais que devem caracterizar um talento: a) traços individuais: em parte inerentes e em parte desenvolvidos com o crescimento da pessoa; b) domínios culturais: referem-se aos sistemas das regras que definem a frequência de performance como significante e valorosa; c) campo social: pessoas e instituições cuja tarefa é decidir quando uma certa performance é considerada de valor ou não.
Sendo assim, sugere-se que outros estudos sejam realizados com o intuito de conciliar o processo de detecção e seleção de talentos proposto pelos teóricos com os aplicados na prática. Não se pretende com este trabalho prever futuros campeões, mas aumentar o leque de oportunidades para aqueles que realmente reúnem as condições essenciais para tais modalidades.

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Formado em E.Física pela U.F.V.(95), especialista em treinamento desportivo (UGF/02), Mestre en ciencia del deporte (Facultad de Cultura Fisica de Matanzas-Cuba/2011). Apaixonado pelos estudos e investigações que envolvem as Ciências do esporte. Coordenador Técnico da Bioforma Academia & Personal Trainning ( João Monlevade). Professor da E.M. Cônego J. Higino de Freitas.